terça-feira, 28 de julho de 2009

Sede de Liberdade




Sinto-me como num casulo. Sinto-me enclausurada nos limites do meu corpo, lutando para manter-me firme e lúcida como devo ser, como exigem que eu seja. Sinto-me obrigada a andar por um caminho já traçado, sinto-me exaustivamente debilitada, como se minhas pernas já não agüentassem mais o peso de minh'alma, que tão sedenta de liberdade absorve toda oportunidade que tem de se ver além das fronteiras. Densa, tão densa que chega a tornar-se um ser distinto de mim, minh'alma clama por liberdade. Transforma meu corpo num cárcere que me tortura a todo o momento, por não me dar a chance de romper os limites de mim. Transforma minha mente num turbilhão de angústias e dúvidas, uma vez que almejo romper um limite imposto por mim mesma. Meu corpo. Somente meu. Que faço para transpor esse tão natural obstáculo que ao passar dos dias se torna cada vez mais sufocante para a minha alma? Ela só quer sair, ela só quer viver...



É tudo tão paradoxal, sentir meu corpo pequeno para tamanha necessidade de liberdade e ao mesmo tempo sentir-me grande diante do mundo que me deparo, ao qual quero entregar-me como se não fosse de ninguém, como se ninguém de mim fosse. Olho para mim e não enxergo nada, senão um pedaço de carne feito gente cujos olhos transbordam de carência... Carência de vida, carência de verdade. Meus olhos são o único veículo que minh'alma encontrou para se expressar, sendo para uns apenas meios de enxergar, sendo para mim uma maneira de extraviar a dor que sinto por deles não ir além, por serem eles tudo quanto posso sentir. São meus olhos meu elo com a minha infindável e insaciável alma, que transmite seus desejos de liberdade por olhares que vão além do que se vê, percorrem aquela linha de concreto e viajam pelo que só é possível imaginar.




Chegará o dia em que serei só o que sinto. Terei, não com meus olhos, não com minhas pernas, mas sim com o meu coração, com a minh'alma, tudo aquilo que de longe quis e não pude ter. Sentirei, não na carne, não na pele, mas no âmago de mim, meus mais profundos e verdadeiros anseios. Serei livre, tão livre que levarei comigo o mundo que existe e aquele que invento para sobreviver. Não haverá fronteiras. Ultrapassá-las-ei. Chegará o dia em que tudo será pequeno para mim, em que me verei sem limites para nada, tão sem limites como o tempo. Estarei difusa à ele. Então terei a certeza de que fui somente aquilo que senti.




'Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome'
[Clarice Lispector]



*Texto: Larissa Jorge



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quinta-feira, 9 de julho de 2009

A Solidão do Poeta...










(...)


A solidão do poeta
é ter a humanidade
inteira, no seu peito.
Sobre o berço de seu filho
chora a inocência

que o novo ser perderá
- a inocência primordial
que perdemos, ao ingressar
na noite escura da alma
do mundo dos adultos.

O coração do poeta
Abre as portas para tudo.

II

O poeta se debate no conflito
entre o desejo e a palavra.
Renunciaria ao corpo,
ou, desesperado de esperança,
com lascívia e furor abraçaria
a memória do prazer?
A quem mais
Daria voz?
À textura essencial da pele,
ou ao texto mudo
da fala gaga e impotente?

A quem mais amaria?
as velhas palavras de sempre,
ou a selvagem vertigem da carne?

(...)


_____
Nikos Kazantzakis
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