A leitura, assim como a música, arrasta-me em meio aos paradoxos
de mim mesma. Tudo em mim é contraditório. Eu sou uma via de mão dupla e afirmo
isso sem nenhum espanto, pois já me entendi assim como pessoa. Eu mesma tenho
dificuldade em afirmar categoricamente algo sobre mim, sobre o que eu acho ou
penso, pois eu nunca tenho uma mesma opinião por muito tempo. Só nunca posso afirmar que Eu Sou, e sim que Eu Estou! As minhas certezas brincam de
roleta russa, o meu Eu Superior dança entre abismos, os meus sonhos são
trapezistas, e as minhas crenças também não são... assim como eu, elas Estão! (risos)... Hora tudo está dentro de mim numa supremacia divina onde tudo flui num
alinhamento impecável entre Fé e Razão, onde tudo me leva à Deus. Em outros momentos,
quando paro para observar a realidade do mundo a minha volta, as minhas crenças
cospem a golda fédita do puro niilismo na minha cara e rasga-se o véu do contentamento.
Reconheço a minha realidade, a que eu escolhi para mim.
Entretanto minha alma é volátil e vive escapando, fugindo e retornando sem
nenhum controle sobre isso.
Meu mundo divino e sagrado me mantém deliciosamente
envolvida, enquanto meu mundo caótico vive tocando o terror apontando para si e
para todos as partes que não há um caminho. Há apenas uma estrada cheia de
curvas, sombria, neblinada, onde estamos em alta velocidade, debaixo de tempestades,
sem GSP e com o limpador de parabrisas quebrados...
Seria a realidade uma loucura ou a loucura seria apenas mais
umas das infinitas realidades que se encontram camufladas nessa mesma realidade
na qual vivemos?
O que eu diria então, de eu para mim?
Sou uma síntese de tudo o que eu vivi, o que eu ignorei, dos
meus medos, das minhas inseguranças, dos livros que eu li, dos lugares que eu
passei, das pessoas que eu conheci e das que eu esqueci, dos meus erros e
acertos, de tudo o que eu escrevi (e ainda escrevo) e um pouco mais de tudo o
que eu conheço e também desconheço. Dos sonhos que tenho dormindo e acordada...
Tudo isso está em mim. Tudo isso sou eu. Eu sou aquela que a mim fala,
desabafa, briga e chora... Eu sou aquela que sorrir para mim no espelho e que
ler tudo que está refletido no meu olhar em silencio. Eu sou aquela que ouve o
som da minha gargalhada e aquela que emudeceu-se a muito tempo.
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